Luiz Leão Brasil foi um dos mais célebres personagens da história do cangaço. Para se fazer um resumo de sua vida criminosa torna-se necessário deixar alguns eventos marcantes de fora, tanto foi ativa a sua participação em episódios que marcaram a história de sua época. Em 1910, nos dias 22 e 23 de janeiro, esteve envolvido na sangrenta hecatombe de Triunfo, Pernambuco, onde residia, quando dois grupos políticos entraram em confronto, resultando em um saldo de 3 morto e várias pessoas feridas.
Um dos seus crimes mais marcantes foi o assassinato do coronel Deodato Monteiro, chefe político de Triunfo. O fato ocorreu em 24 de junho de 1919, quando o influente político de Triunfo, que também teve envolvimento na hecatombe de 1910, retornava da capital pernambucana e foi emboscado por um grupo de homens, tendo à frente o temível Luiz Leão.
A respeito do assassinato do coronel Deodato Monteiro, dava-se conta que teria motivação política. Seus adversários locais, juntamente com o coronel José Pereira Lima e o empresário João Pessoa de Queiroz, teriam encomendado a tarefa a Luiz Leão. Segundo consta, esses inimigos políticos, principais interessados, contaram com o aval do coronel José Pereira e João Pessoa de Queiroz, empresário em Recife que exercia forte influência em Triunfo.
A principal acusação contra o coronel José Pereira dizia respeito ao fato de que Luiz Leão teria partido de uma de suas fazendas no município de Princesa, onde foi se homiziar logo após o cometimento do crime. O chefe político de Princesa alegou que era amigo do coronel Deodato Monteiro, não tendo nenhum motivo para assassiná-lo e que estando na capital paraibana nas atribuições do seu mandato parlamentar, não tinha conhecimento do que se passava em sua propriedade. O Juiz não indiciou nem João nem José, por ausência de provas. Luiz Leão, por sua vez, dizia abertamente que matou o coronel Deodato Monteiro em vindita por este ser o mandante do assassinato do seu irmão.
Luiz Leão nunca atendeu, ou sequer recebeu, intimações, seja do inquérito seja no processo relacionado ao crime. Mesmo porque caso ele se apresentasse teria prisão imediato, devido a outros mandados em abertos. Porém, o seu paradeiro era certo e sabido por todos. Residia no sopé da Serra da Baixa Verde, no lado paraibana, sob a proteção do poderoso Marcolino Diniz, sobrinho pelo lado materno do coronel José Pereira e também sobrinho, pelo lado paterno, do coronel Laurindo Diniz, que, após a morte do seu adversário coronel Deodato Monteiro, galgou o cargo de prefeito de Triunfo.
Em janeiro de 1924, Luiz Leão participou junto com o bando de Lampião aos dois espetaculares ataques à fazenda de Clementino Quelé, após estes se incompatibilizarem com o ex-companheiro de correrias. Em abril do mesmo ano, foi Luiz Leão quem convenceu Marcolino Diniz a enviar um grupo de homens para resgatar Lampião que estava gravemente ferido na Serra do Catolé, em Belmonte. E foi exatamente na residência de Luiz Leão que Lampião ficou até o seu estado de saúde ser restabelecido, sob os cuidados médicos dos drs. Severino Diniz e José Cordeiro.
Durante o governo do presidente da Paraíba Solon de Lucena (1920/1924), sempre que estava no interior, seja em visitas correligionários, seja em participação de eventos político e sociais, o coronel José Pereira se fazia acompanhado do valente Luiz Leão, com o objetivo de garantir sua segurança.
Foi logo depois do assalto do grupo de Lampião à Sousa, ocorrido em 27 de julho de 1924, que teve início o distanciamento entre o coronel José Pereira e Luiz Leão. As relações azedaram de forma definitiva após o assalto ao coronel João Clementino, influente fazendeiro do município de Piancó, fato ocorrido em 24 de agosto daquele mesmo ano.
O coronel José Pereira já estava irritado por conta de acusações que o apontava de conivência com o crime praticado na cidade de Sousa, justamente por ter o bando de salteadores partido de Patos, povoado do município de Princesa. Foi também de Patos, domínio de seu sobrinho Marcolino Diniz, sabidamente o maior protetor de bandidos do interior paraibano, que pouco menos de um mês depois, partiram os criminosos que tomaram de assalto a fazenda Pitombeira, no município de Piancó, propriedade do abastado João Clementino.
O assalto ao fazendeiro foi idealizado pelo sodado pombalense Felinto Olinto, um praça comissionado (cachimbo) da força volante do tenente José Maurício. Após passagem pelas hostes do cangaço por conta de questões relacionadas a vingança do seu pai que fora assassinado em Pombal, Febrônio consegue se integrar a força do tenente José Maurício, casado com sua prima.
Após o bem sucedido assalto à cidade de Sousa, Febrônio convenceu Luiz Leão de que o fazendeiro disponha de grande quantia em sua residência e que não haveria nenhuma resistência. Luiz Leão reuniu sua gente que se juntou com Febrônio, que também contava come alguns dos seus companheiros de farda. O assalto rendeu mais 60 contos de réis, uma verdadeira fortuna, porém, o fazendeiro veio a falecer em decorrência da sessão de tortura que fora submetido para dar conta do paradeiro do dinheiro.
Já no governo Joao Suassuna, que sucedeu Solon de Lucena a partir de outubro, as forças policiais, que já vinham sendo comandadas in loco pelo coronel José Pereira desde o ataque a Sousa, intensificaram as perseguições aos acusados do crime que teve grande repercussão, efetuando, nos dias do início de 1925, Luiz Leão e outros seis companheiros, que ficaram encarcerados em Piancó. Diante da iminência de ser preso, Febrônio foi se refugiar na Serra das Cabras, na região de São José de Piranhas.
A presença dos bandoleiros na cadeia deixou a cidade em polvorosa. A população temia a invasão do bando de Lampião com o objetivo de resgatar o companheiro que o socorreu no pior momento de sua vida. O juiz de direito, o pombalense dr. Abdon Assis fez pressão junto ao governador Solon de Lucena e ao também pombalense padre Aristides Ferreira, chefe político local com assento na Assembleia legislativa, para que os presos fossem retirados de Piancó imediatamente.
Os encargos de recambiamento dos sete presos foram entregues aos tenentes Ascendino Feitosa e Elias Fernandes. Ao primeiro, coube a missão de transportar três dos presos, os mais perigosos, até a capital paraibana. O tenente Elias ficou responsável pelo encaminhamento dos demais até a cadeia da cidade de Pombal.
Os ocupantes do caminhão sob o comando do tenente Elias chegaram a Pombal sãos e salvos, sem nenhum transtorno ou arranhões. Porém, os que estavam sob a responsabilidade do tenente Ascendino, não tiveram a mesma sorte. Em telegrama datado de 25 de janeiro, o oficial da força paraibana relata o episódio ao Chefe de Polícia da Paraíba nos seguintes termos: “Pelas 8:00 hr., ao atravessar o Rio Jenipapo, onde atolou um dos caminhões, tentaram os presos fugir, aproveitando-se dessa circunstância, atirando-se dois dos carros à água do rio. A escolta fez fogo, sucedendo ser atingidos e mortos os de nomes Luiz Leão, Pedro Nogueira, vulgo Pedro Tiburtino, e Luiz Barbosa Lima”.
O relato do tenente Ascendino Feitosa até os dias de hoje não é totalmente convincente, há muitos que não se contentam. Mesmo porque naquela época a justificativa de execução de bandoleiros aprisionados sob o pretexto de tentativa de fuga era um artifício bastante utilizado pelas forças policiais.
A versão predominante dava conta que a morte de Luiz Leão teria sido na verdade uma execução determinada pelo coronel José Pereira, que estaria bastante insatisfeito com os acontecimentos originados a partir do povoado de Patos, hoje Patos do Irerê. Por trás da morte de Luiz Leão, dizia-se, havia as mesmas digitais do mandante da execução do cangaceiro Meia Noite, ocorrida dias após o assalto a cidade de Sousa.
O tenente Manoel Arruda de Assis, sobrinho do juiz Dr. Abdon Assis, era segundo-sargento da Policia Militar da Paraíba e destacava em Piancó. Em entrevista concedida em 1979, o tenente-coronel Manoel Arruda, que se tornou amigo confidencial de Ascendino Feitosa, fez a seguinte revelação:
“Eu estava destacando lá, estava na caçada, tarde da noite, tiraram o Luiz Leão, Pedro Felício (sic) e Pedro Tiburtino, que eram de Lampião e levaram na estrada de Catingueira, via Catingueira, enquanto o Elias com quatro outros detentos criminosos, via Coremas, para despistar a coisa. No rio Jenipapo, com quatro léguas, o Ascendino, executou os três: Luiz Leão com os outros presos. Fuzilou todos três e enterrou-os na areia do riacho. O padre danou-se. Passou um telegrama para José Pereira, que ele devia ter mandado matar os presos lá no município dele, não em Piancó. Tiveram um atrito muito forte pelo telégrafo, depois na Assembleia.”
José Tavares de Araújo Neto