A gurizada de 50 anos ou mais certamente ainda lembra do velho e inesquecível frasco de 400ml de Biotônico Fontoura, o fortificante que garantia acabar com a anemia da meninada com uma só colherada.
Cândido Fontoura, amigo de Monteiro Lobato, foi o criador da fórmula que prometia milagres. O escritor deu-lhe uma forcinha promovendo o medicamento criando o personagem Jeca Tatu, uma espécie de Popeye do Sertão que trocava o espinafre pelo Biotônico.
Magricela e anêmico, tornei-me um contumaz usuário do remédio do Jeca Tatu. Na farmácia Queiroga havia uma prateleira cheinha daqueles frascos pretos e Epitácio, seu proprietário, receitava-me regularmente o Biotônico para os mais diversos incômodos e fraquezas do corpo. Não havia necessidade de receita e a consulta era feita no balcão da botica. Em casa, D. Mariinha acrescentava ainda a formula original ovos de pata e leite condensado, tornando-o um Supertônico, segundo ela.
O fato é que não me faltava um frasco em nossa casa. Inicialmente a dosagem era dividida: uma colher após o almoço e outra após o jantar acompanhado com a esperança de abrir-me o apetite e a disposição. Se deu certo com o Jeca, também daria certo comigo.
Meu irmão, um pouco mais nutrido, tomava apenas uma colherada a noite. E assim, passei alguns anos consumindo o tônico, porém sem muitos resultados. Certa feita, D. Mariinha não vendo sucesso no tratamento resolveu, por conta e risco, aumentar a dose para três colheradas por dia, após o café, almoço e jantar. Foi aí que os resultados vieram e logo fui obrigado a deixar de lado o tratamento, não que eu tenha me tornado “parrudo” nem tampouco mais disposto, mas passei a ser acometido por uma crise de risos intermitentes no meio das aulas matinais, chegando até mesmo a ser expulso de sala pela Prof. Hermelinda Rocha. Na verdade, eu estava era bêbado. A formula original do Biotônico Fontoura, até os idos de 2001, continha 19,5% de álcool etílico.
Teófilo Júnior